Fernando de Noronha inaugura exposição permanente com lixo retirado do mar
Eduardo Vessoni Colaboração para Nossa 21/09/2020 10h30
Durante a semana do Dia Internacional da Limpeza das Praias, iniciativa que há 30 anos estimula a retirada de lixo costeiro em mais de 100 países, Fernando de Noronha inaugurou uma ação inédita (e necessária em tempos de descuido ambiental).
Na última sexta-feira (18 de setembro), o arquipélago pernambucano lançou no Memorial Noronhense, na Vila dos Remédios, a exposição "Coleção Didática de Lixo Marinho", um acervo que abriga 90 quilos de itens como tampas de garrafas, vidros, calçados, pilhas, bitucas de cigarro e embalagens, entre tantos outros produtos descartados, displicentemente, no mar.
Coordenada pela bióloga Sandra Cadengue, a coleta foi feita entre maio e agosto, nas praias do Parque Nacional Marinho (entre elas a do Leão e a do Sancho, que já foi eleita por quatro vezes a mais bonita do mundo), e também na Área de Proteção Ambiental (APA), no Mar de Dentro, como as "urbanas" Cachorro, Meio e Conceição.Entre os objetos catalogados, foi encontrado até lixo de países da África e da Ásia que chegou ao arquipélago com as correntes marinhas.
Conforme dados da Ocean Conservancy, ONG responsável pelo International Coastal Cleanup, ação global realizada neste sábado (19/9), a edição de 2018 recolheu, em um único dia, cerca de 11 mil toneladas de lixo em praias de todo o mundo.
E como o descarte do lixo ainda é um assunto mal resolvido em todo o planeta, o acervo noronhense não deve parar de crescer, uma vez que a exposição será permanente e novos objetos devem ser incorporados à coleção.
"Este trabalho de manutenção tem que ser contínuo com o intuito de conservar os ambientes terrestre e marinho" Sandra Cadengue, bióloga.
Para Guilherme Rocha, administrador da ilha, o fluxo de visitantes em Noronha "é um fator favorável à sensibilização ambiental sobre o lixo marinho"
Lixo catalogado
Com curadoria da também bióloga Érika Cavalcante, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a coleção que será exposta permanentemente passou por uma triagem, de acordo com o tipo do lixo e a praia onde foi encontrado.
Outra parte dos materiais coletados, sobretudo os que tenham informações mais detalhadas de sua origem e uso, ficarão à disposição para pesquisadores de lixo marinho.
"A coleção mostra que ações locais impactam globalmente", alerta Érika.
Em suas análises, a bióloga chegou a um dado bem curioso sobre o lixo de Noronha. Segundo ela, as praias do Mar de Fora, voltado para o Atlântico, costumam receber lixo estrangeiro com maior frequência. Já nas praias do Mar de Dentro, os itens costumam ter origem na própria ilha.
Plástico Zero
Patrimônio Natural da Humanidade e endereço estratégico para espécies migratórias, Fernando de Noronha não só tem se preocupado com o quem vem "lá de fora", como os nativos costumam chamar o continente, mas também com práticas ambientais no próprio quintal de casa.
Lançado há pouco mais de um ano e meio, o Programa Plástico Zero pretende zerar a produção de resíduos plásticos descartáveis. Desde abril de 2019, não é permitida a entrada, comercialização e uso de sacolas, garrafas plásticas abaixo de 500 ml e utensílios como canudos e talheres.
De acordo com as últimas contas da administração da ilha, já foram mais de 50 notificações em estabelecimentos locais e quasemil quilos de plásticos apreendidos ou entregues, voluntariamente, por turistas.
A campanha já tem demostrado resultados positivos, como a diminuição na quantidade de lixo manuseado pela Unidade de Triagem de Resíduos Sólidos do Distrito, localizada na própria ilha, cujo lixo coletado já deu origem a 855 quilos de sacolas feitas com lonas recicladas.
Outra iniciativa ambiental recente é o decreto-lei do Carbono Zero. Criado no início deste ano, o programa proibirá a entrada de veículos novos a combustão, a partir de 2022, e a retirada total de automóveis que não sejam 100% elétricos, a partir de 2030.
SERVIÇO
Exposição Coleção de Lixo Marinho de Fernando de Noronha
Memorial Noronhense (Vila dos Remédios)
Visitas às segundas, quartas e sextas, das 9 às 12 horas
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