“Temos o distanciamento de corpos, mas precisamos nos manter próximos em nossas redes de afetos”
O Webinário Juventudes Online chega à 4ª edição, sempre abrindo espaço para uma juventude potente debater sobre assuntos urgentes. Desta vez, o tema foi saúde mental.
O número de jovens que sofrem com depressão e ansiedade cresce a cada ano no Brasil e no mundo. Neste contexto de pandemia, causada pela covid-19, os casos de doenças relacionadas ao emocional da população aumentam em ritmo ainda mais acelerado. Além do isolamento social, do medo do contágio, da perda de familiares e pessoas queridas, muitas e muitos jovens ainda estão tendo de lidar com a diminuição/perda de renda e do próprio emprego.
Como lidar com tudo isso?
Assista ao 4º Webinário Juventudes Online
4º Webinário Juventudes Online – Saiba como foi!
A mediação foi novamente de Bernardo Menezes, editor e apresentador do Futura, que deu início ao debate apresentando o cartão de visitas do Webinário Juventudes Online: “Aqui é o espaço pra que todas e todos contem suas vivências; as histórias das vidas de vocês”.
A partir dali, o jovem Mário Emmanuel abriu as conversas, contando como tem sido lidar com tantas perdas, financeiras e emocionais, que decorrem da pandemia: “Estamos vivendo este novo desafio. E a saudade se mostra um tema muito presente. Os espaços de convivência não podem mais ser usados”.
Cleomar Melo compartilhou suas impressões sobre o atendimento aos jovens que precisam de suporte para a saúde mental: “A juventude trabalhadora tem dificuldade no acesso ao atendimento de saúde”. E foi além: “Isso sem falar na violência doméstica que as mulheres têm sofrido, especialmente agora, durante a pandemia. Com a população LGBTI+ e as juventudes quilombolas, por exemplo, o cenário é cada vez pior”.
“Como estudar no contexto do medo que a pandemia nos impõe?”
Se o cenário já é difícil e duro no meio urbano, fica ainda mais complexo nas aldeias indígenas. É o que conta Jeseias S. Jorge: “As pessoas aqui estão muito receosas. A gente era livre, fazia nossas rodas pra confraternizar, mas não podemos agora. Tudo isso gerou uma ansiedade, um medo”.
Raul Alves complementou: “Se tem uma coisa que o vírus não é, é democrático. É importante termos um olhar aprofundado e ampliado do mundo”. E esse olhar sobre o cuidado com a saúde mental, quando se vira para o contexto das pessoas LGBTI+, abordada anteriormente por Cleomar, revela desafios ainda maiores.
Foi o que Manoela Medeiros destacou: “A população LGBTI+ sofre com muitas questões mentais, porque todo preconceito social que vivemos nos coloca mais vulneráveis a transtornos de ansiedade e depressão”.
“O distanciamento das amizades, da sua rede de apoio, contribui para o aumento da pressão”
Se para adultos não está sendo fácil manter a mente sã, o apoio que precisa ser dado a crianças e adolescentes em um momento de necessário isolamento social é essencial e urgente. Para Maria Luiza, “as infâncias e as adolescências estão invisibilizadas. A falta do espaço de troca entre eles tem potencializado a ansiedade, o medo e a depressão”. Felipe Caetano, que trabalha com a escuta e o monitoramento de jovens, afirma: “Aumentou o número de denúncias de casos de violência sexual contra crianças; muitos deles acobertados pela própria família”.
Dandara Araújo falou sobre como o racismo se mostra, mais uma vez, o enorme problema social que é. E como o preconceito contra negros mata: “As pessoas negras compõem a maior parte daquelas e daqueles que precisaram seguir indo trabalhar, saindo de suas casas. Ficaram mais expostas ao vírus e, por isso, têm morrido muito mais de covid-19”.
Dando sequência à reflexão sob a ótica racial no contexto do cuidado da saúde mental durante a pandemia, foi a vez de Lays dos Santos abordar aspectos de segurança pública e de direitos dos cidadãos: “O número de jovens negros que são vítimas de agentes do estado tem aumentado. Isso afeta profundamente a saúde mental da criança, do jovem. A falta de consciência dos próprios direitos causa a baixa busca pelo que é nosso por lei enquanto cidadãs e cidadãos”.
“Uma pessoa negra que vive no Brasil não tem espaço pra pensar em saúde mental. Ela precisa focar em sobreviver”
A importância do acolhimento e da solidariedade como ferramentas poderosas para as relações humanas foi explorada por Kevyn Kel: “Como a gente vai sobreviver depois da pandemia? Temos levado o que pesquisamos pras pessoas da comunidade. O que temos visto é muita aglomeração, mas o perigo é real”. Kevyn destacou ainda o especial peso emocional que a população LGBTI+ sofre dentro de suas próprias casas: “Os lares dessas pessoas não são saudáveis emocionalmente e acabam potencializando os problemas”.
Desafios complexos, historicamente encarados pelas religiões de matrizes africanas no Brasil, por conta do preconceito e da intolerância, são potencializados neste momento também. Mas o que José Júlio compartilhou com todas e todos mostrou o que sua religião tem feito para se adaptar a esta realidade de restrito contato social e prover coisas positivas: “Na Umbanda, nosso ritual de limpeza externa agora inclui o álcool em gel. Nossas lives começaram a acontecer também. Adotamos essas medidas para conseguirmos levar a espiritualidade às pessoas”.
Ao final, Cleomar sintetizou o sentimento de todas e todos:
“A saída é no coletivo. Na resistência da coletividade”
Conheça as/os jovens
Mário Emmanuel, 21 anos, de Pernambuco, é graduando em licenciatura plena em História na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), integrante do Laboratório de História das Infâncias do Nordeste. Educador da Escolinha de Conselhos de Pernambuco, representante do Comitê Nacional de Adolescentes e Jovens na Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (Conapeti) e produtor do documentário “Viver não cabe no Lattes”, que pauta a questão da saúde emocional dentro das universidades.
Cleomar Melo, 24 anos, do Rio Grande do Norte, é graduando no bacharelado de Serviço Social na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e militante da Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde.
Jeseias S. Jorge, 23 anos, é da etnia dos Terenas, na aldeia Kopenoty Terena, no Mato Grosso. Formado na Escola Estadual Indígena Elio Turi Rondon Terena, é agente indígena de saúde.
Raul Alves Barreto Lima, 29 anos, de São Paulo, é psicólogo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre e doutorando em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Núcleo de Estudos Junguianos). Atualmente, é assessor técnico na Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Coordenação de Proteção Social Especial), estando à frente do acompanhamento dos serviços de média e alta complexidade para mulheres.
Manoela Medeiros é do Rio Grande do Sul. Com 24 anos, é lésbica, cis, branca, psicóloga. Possui experiência nos campos de direitos sexuais e de gênero, HIV/AIDS e promoção de equidade em serviços de saúde pública. É ativista da ONG SOMOS – Comunicação, Saúde e Sexualidade, e coordenadora do núcleo de saúde e organizadora da Parada Livre de Porto Alegre.
Maria Luiza de Oliveira, 28 anos, da cidade de Carpina, em Pernambuco, é pedagoga e mestra em Educação pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Membra do Grupo de Pesquisa Infância e Educação na contemporaneidade (GPIEDUC), do Grupo de Estudos da Transdisciplinaridade da Infância e da Juventude (GETIJ) e do Núcleo do Cuidado Humano da UFRPE.
Felipe Caetano, 18 anos, é de Aquiraz, no Ceará. Ativista social pelos direitos da infância, possui formação técnica em Edificações, sendo atualmente estudante de Direito pela Universidade Federal do Ceará. Foi representante dos adolescentes no Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA)0, de 2017 a 2019. Co-idealizador dos comitês de adolescentes contra o trabalho infantil. Conselheiro jovem do Unicef Brasil.
Dandara Araújo, 21 anos, de Teresina, no Piauí, é graduanda de Psicologia na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), onde participa de outras frentes: Manifesto Antirracista na UESPI, Liga de Saúde da População Negra, Núcleo de Estudo e Pesquisas Afro (NEPA-UESPI) e Núcleo de Estudos e Pesquisas em História e Memória da Escravidão e do Pós Abolição (SANKOFA-UESPI). Contribui com a UNISOL Brasil como Coordenadora de Juventude.
Lays dos Santos, 21 anos, do Rio de Janeiro, é cocriadora do projeto social Eu vivo favela, está na Assessoria de Direitos Humanos e de Minorias do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e é estudante de serviço social. Atuo no Conselho de Juventude do Unicef Brasil juntamente com outros jovens.
Kevyn Kel, 21 anos, de João Pessoa, na Paraíba, é militante LGBTQIA+, influencer, presidente do Grêmio Wilma dos Santos Pereira, estudante do ensino médio. Atua na Associação de Juventude em Ação (Aja), em parceria com a Associação de Prevenção à AIDS (AMAZONA).
José Júlio da Silva Filho, 26 anos, de Canindé, no Ceará, é motorista na periferia de Fortaleza. Tem na sua religião, a Umbanda, uma forma de abranger e afetar positivamente todos os pilares da Sociedade.
LINK: Webinário Juventudes Online: como cuidar da saúde mental?