A bióloga Soraya El-Deir alerta para a necessidade de conservação dos ecossistemas quando a crise sanitária passar. As algas, por exemplo, não sobrevivem se forem pisadas. “As algas que fazem cobertura primária e servem de base de toda cadeia alimentar têm fatores limitantes como o pisoteio humano. Se a gente tiver política voltada para recomposição ambiental proibição do acesso a esses recifes, vai ter uma praia muito mais viva e intensa.” A pesquisadora também destacou a importância de repensar e revisar o desenvolvimento urbano do Recife. O aumento de áreas verdes atrairiam pássaros e reduziriam as ilhas de calor. Ela ressaltou também a problemática do saneamento da cidade.
“Temos 64 riachos urbanos dos quais, no início dos anos 70, foi tirada toda mata e colocado concreto. Chamamos de canais”, explicou. “Apenas cerca de 30% do esgoto coletado são tratados. 70% do esgoto vão direto in natura para os canais, e chegam até o mar. Essa quantidade de matéria orgânica é muito acima do que a natureza tem de capacidade de depurar.” El-Deir citou um projeto da Alemanha que, no início dos anos 2000, retirou toda parte de concreto dos canais para recompor a mata ciliar. Com isso, a fauna e a flora voltaram a esses canais. “Imagina como seria o Recife se fizessem isso?”, sugeriu.
A via, resumiu, é pelo desenvolvimento sustentável. “O maior problema que a gente tem é o da percepção ambiental. A educação para a sustentabilidade demonstra claramente o que é um país desenvolvido. É aquele que consegue conciliar qualidade ambiental com qualidade de vida.” Esse é o mesmo caminho apontado pelo secretário estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, José Bertotti.
“Nossa perspectiva é fortalecer a política de preservação com foco de desenvolvimento sustentável, construir ambientes em que se possa produzir os bens necessários para os humanos, mas que se respeite o meio ambiente”, afirmou. Isso passa pelo estabelecimento das áreas de preservação. “É um momento de tristeza no foco de enfrentamento do coronavírus, mas que demonstra a necessidade de ambientes protegidos cada vez mais reconhecidos. A gente tem 85 unidades de conservação em Pernambuco. A qualidade das áreas precisa ser assegurada para garantir que a natureza tenha seu espaço”, sustentou.