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[JORNAL DO COMMERCIO] Cientistas pedem ajuda para combater coronavírus

Tão logo os primeiros casos de covid-19 foram diagnosticados em Pernambuco, começou a circular no WhatsApp um mapa mostrando a geolocalização das notificações registradas no Recife. Desconfiada como sou com tudo que chega via zap, fui atrás de descobrir se aquele mapa era verdadeiro ou se estava diante de desinformação pura e simples. Descobri não só que era verdadeiro como que por trás daquele trabalho estava uma equipe de pesquisadores de várias empresas e instituições que pretende fazer muito mais do que mapeamento epidemiológico.

O grupo quer massificar a testagem para covid-19, monitorar remotamente doentes através da telemedicina e sequenciar o genoma do novo coronavírus em pacientes pernambucanos. O movimento, que pode ser conferido na página brasilsemcorona.com.br, foi iniciado pelas startups Colab e Epitrack e ganhou reforço de pesquisadores de várias instituições públicas e privadas, entre elas o Lika (Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami), da UFPE; IRRD (Instituto de Redução de Risco e Desastre), da UFRPE; IFPE; e empresas como Genomika, PrivateKit SafePath, Circor, E-Life, Nutes, Canon-Medical e Healthdrones, que atuam em áreas que vão de análise bioquímica a mídias sociais.

Para conseguir avançar nas outras frentes, o grupo busca recursos através de plataformas de crowdfunding e lançou um edital na Fade, fundação ligada à UFPE. O objetivo é levantar R$ 3,5 milhões para tornar Pernambuco uma das referências no estudo da doença causada pelo novo coronavírus. O professor José Luiz de Lima Filho, do Lika, conta que as instituições começaram o trabalho em janeiro. “Notamos que os números da propagação do novo coronavírus não seguiam dados epidemiólógicos tradicionais. Os resultados indicavam que o vírus é muito mais rápido e que o número de vítimas iria crescer rapidamente.

Quando foi detectado o primeiro caso no Estado, começamos com o boletim distribuído pela Prefeitura do Recife e o retorno foi muito bom. Agora precisamos expandir para novas camadas. A próxima delas é ir na direção do que orientou a OMS: testar, testar, testar”, diz. As amostras de material dos pacientes suspeitos seriam colhidas nas unidades de Saúde e testadas pela Genomika, com o apoio do Lika.

O exame, do tipo molecular, será o mesmo usado nos EUA e no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, chamado “padrão ouro”. José Luiz diz que o grupo tem condições de realizar pelo menos 600 testes por dia. “O problema é que estão faltando insumos no mundo inteiro”, lamenta. O professor estima que em 20 dias a Genomika, empresa cujo CEO estudou no Lika, deve estar equipada para expandir a testagem. A terceira frente seria implementada em parceira com o Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), que desenvolveu um aplicativo para celular que compartilha informações e movimentos da população que podem auxiliar as autoridades sanitárias a lidar com os pontos críticos de infecções.

A quarta onda é o uso da telemedicina para monitorar pacientes. Um prototipo de equipamento que mede temperatura, pressão e nível de oxigênio no sangue foi construído e a meta é produzir vários que permitam em tempo real ao serviço de saúde saber a situação de cada paciente, mesmo em casa, e socorrer os casos mais graves.“É possível, também, permitir que o paciente seja orientado por telefone ou por meio digital”, detalha José Luiz. Por fim, o grupo quer ainda pesquisar o comportamento do vírus na nossa população.

“Precisamos criar um banco de amostras, isolar e sequenciar o novo coronavírus em pacientes pernambucanos, prestar especial atenção nos casos que resultaram em morte”, acrescenta. Ele considera que o projeto é muito mais do que uma pesquisa. “É a união entre universidades nacionais e internacionais como o MIT e o University College de Londres, empresas, ONGs como o Círculo do Coração, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, CESAR e Porto Digital, além dos Governos Estadual e Municipal, de Pernambuco e do Recife”.