Quatro candidatos a prefeito do Recife participam de debate promovido pela UFRPE e SBPC; veja propostas
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFPE) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) promoveram, na noite desta quinta (29), debate pela internet com os quatro candidatos que mais pontuaram nas pesquisas de intenção de voto.
Por G1 PE
Patrícia, João, Marília e Mendonça participaram de debate, na noite desta quinta (29), pela internet — Foto: Reprodução/Redes sociais
Nesta quinta-feira (29), quatro dos 11 candidatos à prefeitura do Recife participaram de um debate promovido pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). De acordo com a organização do evento, foram chamados os que mais pontuaram nas pesquisas de intenção de voto.
Mediado pela presidente regional da SBPC-PE e docente da UFRPE, Maria do Carmo Figueredo Soares, o debate foi transmitido pela internet. O reitor da universidade, Marcelo Carneiro Leão, também participou da condução do debate.
Durante o encontro, os postulantes apresentaram propostas sobre temas como educação; ciência, tecnologia e inovação; meio ambiente e sustentabilidade; transporte e sistema viário.
O debate contou com a presença da Delegada Patrícia (Podemos), João Campos (PSB), Marília Arraes (PT), e Mendonça Filho (DEM). De acordo com a organização, as perguntas enviadas pelo público serão compiladas e enviadas para as assessorias dos(as) candidatos(as).
O debate foi dividido em dois blocos:
- 1º bloco: candidatos responderam perguntas entre si.
- 2º bloco: candidatos responderam a perguntas feitas por pesquisadores da SBPC/UFRPE.
No primeiro bloco do debate, cada candidato se apresentou durante sete minutos. Na sequência, eles responderam perguntas sobre temas definidos em sorteio. A ordem ficou assim: Marília Arraes, Delegada Patrícia, Mendonça Filho, João Campos.
A primeira pergunta, feita por Marília Arraes e direcionada a Patrícia, foi sobre ciência, tecnologia e inovação. Marília perguntou qual a proposta de Patrícia para criar diálogo entre a prefeitura e instituições de ensino e o Porto Digital.
Delegada Patrícia: Atualmente, existem 1.500 vagas em aberto no Porto Digital, por falta de profissionais que tenham qualificação. Enquanto isso, o Recife é uma das maiores capitais em desemprego do nosso país. A nossa proposta para a área de tecnologia, que dialoga com a nossa proposta para a educação, é a realização de parcerias público-privadas (PPPs) para qualificar os nossos jovens de escolas municipais na área de tecnologia, que mais do que ser o emprego do futuro, já é o emprego do presente.
Para a segurança, queremos desenvolver softwares de reconhecimento facial para, dentro de uma central de monitoramento, integrar as câmeras da prefeitura, do setor privado, comércio e de prédios que apontam para a via pública, para identificar quem está cometendo crimes contra a população. Com esse monitoramento, podemos mapear os locais em que acontecem mais roubos, furtos, estupros. Para que a gente possa trabalhar a distribuição inteligente e planejada da Guarda Municipal.
Queremos desenvolver e aplicar softwares de monitoramento remoto de pacientes com doenças crônicas (cardiopatias, hipertensão, diabetes) para que Recife não perca mais moradores por ausência de consultas e exames. Segundo levantamento do DataSUS, em 2018, morreram mais de 4 mil pessoas na cidade por causas evitáveis como a ausência de consultas, exames e vacinas.
A segunda pergunta, feita pela Delegada Patrícia e direcionada a Mendonça Filho, foi sobre transporte e sistema viário. Patrícia quis saber qual a posição de Mendonça sobre o Recife permanecer ou sair do Consórcio Grande Recife.
Mendonça Filho: Do ponto de vista territorial, o Recife é uma das capitais com menor território do Brasil. Todo o Grande Recife engloba uma população de 4 milhões de habitantes. Nós somos uma cidade líder e não podemos abdicar dessa liderança na discussão dos problemas que afetam o Recife e o Grande Recife. Saneamento básico, transporte público, abastecimento de água fazem parte de um processo de integração metropolitana. Como prefeito do Recife, eu pretendo liderar o debate.
O que há hoje é uma omissão por parte da prefeitura e do prefeito Geraldo Julio (PSB). Nós vamos liderar esse processo. Tem muita gente que mora em Olinda e em Jaboatão e trabalha no Recife. Esse processo de integração tem que ser visto de forma cada vez mais integrada e não separada.
Vamos priorizar o conforto, ônibus com ar-condicionado, frequência e disponibilidade. Pretendemos investir nos BRTs, que estão sendo desativados pelo governo do estado. Nós anunciamos a triplicação da BR-232, na saída do Recife, a partir da Abdias de Carvalho, e um novo acesso ao Ibura. Hoje, a população do Ibura sofre, subindo e descendo a ladeira da UR-01. São obras viárias que vão melhorar o sistema de transporte da cidade.
A terceira pergunta, feita por Mendonça Filho e direcionada a João Campos, foi sobre educação. Mendonça questionou o posicionalmente de João em relação ao que chamou de "descaso na política educacional do Recife nos governos do PT e PSB".
João Campos: Gostaria de deixar bem claro que o Recife tem avançado. A gente, nas últimas duas medições, têm sido a capital brasileira que mais cresce no IDEB [índice de Desenvolvimento da Educação Básica], nos anos finais do fundamental e isso é um importante avanço. Foi implementada a política municipal de educação integral, um modelo de gestão que resultou um belíssimo resultado na educação de Pernambuco e também foi implementado no Recife. A educação em Pernambuco saiu do 21º lugar no Brasil no IDEB, inclusive quando Mendonça Filho era governador, e foi para melhor educação em todo o Brasil. Mas a gente não está aqui para celebrar avanços, a gente está aqui para enxergar desafios que ainda existem. O desafio da creche existe no Brasil inteiro. A gente vai duplicar o número de vagas, fazer um diálogo com a iniciativa privada, com o terceiro setor.
Vamos olhar com coragem e trabalhar para fortalecer a alfabetização na cidade do Recife e, no terceiro eixo, discutir a empregabilidade. Anunciamos o embarque digital, com 500 bolsas por ano para alunos de escolas públicas em cursos tecnólogos, para poder ocupar vagas ociosas hoje na área da tecnologia. Nós próximos anos, eu tenho certeza, de que o Recife estará no pódio da educação do Brasil e nós vamos conseguir fazer isso juntando as pessoas, botando dentro do orçamento a priorização da educação. O Recife gasta acima do piso pedido pela Constituição e nós estamos preparados para conduzir avanços na educação no Recife.
A quarta pergunta, feita por João Campos e direcionada a Marília Arraes, foi sobre meio ambiente e sustentabilidade. João perguntou a opinião de Marília sobre a política ambiental conduzida pelo governo federal e a repercussão disso em todos os biomas brasileiros.
Marília Arraes: Você está levando para o plano federal uma discussão que a tem que fazer no plano municipal. No Recife a gente tem muito problema em relação ao meio ambiente, pois 20% dos domicílios não tem coleta de lixo. Em relação ao governo Bolsonaro, você sabe muito bem minha posição. Quem tem lado aqui sou eu. Você votou em Aécio Neves, contribuiu para que Bolsonaro chegasse até onde está. Esta política lamentável de meio ambiente, de destruição do País, de desmonte do SUS, da atenção básica, é fruto de um desmonte no estado nacional brasileiro que o PSB contribuiu para ele. Você, Paulo Câmara, Geraldo Julio também contribuíram para isso.
Quero falar sobre o Recife, nós vamos ampliar a coleta de lixo para toda a cidade e ter uma política efetiva de coleta seletiva. Menos de 2% dos 51 kg de lixo que cada Recifense produz vai para a reciclagem. Isso afeta o meio ambiente a a economia. Vamos incentivar a coleta seletiva nas comunidades mais carente e nos condomínios, na classe média, na parte mais rica da cidade, numa cidade desigual como é o Recife. Vamos investir em educação ambiental e ecoturismo e, fazendo isso, nós vamos iniciar o combate ao governo Bolsonaro, que passa pelos municípios. Nós vamos cuidar do meio ambiente do Recife, de verdade, cuidar dos nossos rios e fazer o que Geraldo Julio não fez e você parece que esquece que faz parte de uma gestão que não tem compromisso com uma área chave da nossa cidade.
Segundo bloco
No segundo bloco, foram realizadas perguntas por três pesquisadores da SBPC/UFRPE para todos os candidatos. Os temas foram: educação; ciência, tecnologia e inovação; meio ambiente e sustentabilidade.
A primeira pergunta, sobre o tema educação, foi realizada pela professora titular do Centro de Educação da UFPE e Coordenadora do Fórum Estadual de Educação de Pernambuco, Márcia Ângela Aguiar. Ela questionou os candidatos sobre os projetos para a volta às aulas em meio à pandemia.
Delegada Patrícia: “Sobre a questão da pandemia, a gente precisa esperar para ver o que vai acontecer daqui para janeiro do próximo ano. A gente tem, hoje, vários estudos sendo desenvolvidos, em outros países, para que haja uma vacina, para que haja uma imunização. E, se tudo der certo, nosso bom Deus permitir, a gente consegue erradicar a Covid-19 e aí, sim, retomar, de forma totalmente segura, o ano letivo, as aulas. Mas a gente depende desse período de tempo. A gente ainda tem alguns meses até a próxima gestão e a gente precisa ver o que vai acontecer nesse período, se vai haver uma imunização, se vai chegar aqui no Brasil, para que a gente possa traçar os próximos passos”.
João Campos: “É importante a gente tem muita seriedade na discussão desse tema, poder escutar as autoridades sanitárias, poder escutar aqueles que estão na linha de frente, coordenando as decisões da pandemia na área da saúde e, lógico, poder ter um olhar especial para a educação, sempre. Educação nunca pode estar em segundo plano. Sempre deve ser uma prioridade. Em relação a um material, é necessário que, no momento da retomada da educação de base, que é responsabilidade do município, toda a infraestrutura existe, de limpeza, de manutenção, da separação necessária, distanciamento. Tudo isso deve ser feito com muita responsabilidade, mas aqui eu digo e firmo esse compromisso. Nós temos que ter uma responsabilidade muito grande”.
Marília Arraes: “Não dá para falar de segurança em escolas municipais, já que muitas delas sequer têm abastecimento e água para as crianças lavarem as mãos. Mais da metade delas se encontra em locais onde não tem saneamento básico. Setenta por cento delas estão com infiltrações nas paredes. Então, o problema estrutural dificulta, obviamente, a retomada, principalmente antes de haver a vacina e é importante dizer que, em relação à retomada, nós temos que ter uma preocupação essencial. Eu sou mãe, minha filha está na idade de alfabetização e tenho uma preocupação, porque não dá para você ignorar que houve o que houve 2020. A gente precisa que o ano de 2021 seja um ano que sirva por dois”.
Mendonça Filho: "A questão da alfabetização é marcante e importante. Criança mal alfabetizada compromete toda a sua vida escolar. A gente vai dedicar grande atenção à questão da alfabetização, melhorar o desempenho do fundamental, que foi abandonado, infelizmente. A gente vai colocar o Recife entre as cinco melhores capitais do Brasil. Não é falta de recurso. Teresina (PI) tem um desempenho melhor do que a cidade do Recife e a gente vai avançar nesse campo. Criaremos o Aluno Conectado, em que o aluno da rede municipal tem acesso à internet, inclusive dentro de casa, paga pela prefeitura. Então, vamos promover, nessa nossa jornada como prefeito, uma verdadeira revolução. Não é conversa mole, não. Não é promessa vazia, não”.
A segunda pergunta, sobre o tema Ciência, Tecnologia e Inovação, foi realizada pelo professor titular do Depto de Física da UFPE, Presidente de Honra da SBPC e ex-ministro de C&T, Sérgio Rezende. Ele questionou os candidatos sobre a experiência deles na área de tecnologia e quais políticas pretendiam implementar para fomentar a ciência na cidade.
Delegada Patrícia: “Vamos utilizar a tecnologia em favor da área de saúde, da área de segurança, em especial. Então, na área de segurança, e a gente vai conseguir integrar as câmeras do setor privado com as do setor público numa única central de monitoramento. Isso é possível, através do uso de tecnologia e, também, da utilização de software de reconhecimento facial, para que se possa identificar as pessoas estão cometendo delito na nossa cidade. Na área de educação, seria a realização de parcerias público-privadas, com a rede privada de ensino, para a gente poder qualificar os nossos jovens na área de T.I., que, hoje, ela demanda qualificação. Existem muitas vagas abertas no mercado de trabalho, muitas que abrirão nos próximos anos”.
João Campos: “A gente sabe que o orçamento público deve ser um importante indutor de incentivo na ciência, tecnologia, pesquisa e inovação. A gente, além de ter compromisso por enquanto deputado, nós vamos trazer isso para cidade. Fazer uma política municipal de transformação digital e inovação aberta. A gente precisa inovar e chamar as pessoas para poder colaborar com isso. A sociedade civil, o terceiro setor, a iniciativa privada. A gente vai poder fazer contratação de projetos específicos na área de tecnologia, a gente possa levar a tecnologia como um importante aliado para reduzir a burocracia, para criar um estado mais eficiente, para a gente poder dar um novo salto, tendo a universidade como parceira”.
Marília Arraes: “Na minha vida pública, na Câmara de Vereadores, tive a oportunidade de fazer várias audiências públicas sobre o tema. Durante meu mandato de deputada federal, destinei boa parte das emendas às universidades, até por conta do sucateamento que as universidades públicas vêm sofrendo. Destinei emendas, também, para o CRC, que é o Centro de Recuperação Tecnológica, onde forma jovens e insere nessa área voltada ao mercado de trabalho. Mas teve algo na minha vida que eu considero que foi essencial na defesa da Ciência e Tecnologia e o senhor estava comigo, que foi a luta contra a eleição de Aécio Neves, que nós conseguimos conquistar, foi nos movimentos contra o impeachment e contra a retirada do PT dos governos”.
Mendonça Filho: “A criação do Porto Digital nasceu numa coordenação minha, como vice-governador do governo Jarbas Vasconcelos, e eu me orgulho muito disso. Inclusive, o prédio principal do Porto Digital, que era do antigo Bandepe, foi cedido por mim, como governador de Pernambuco, a essa grande iniciativa, que é modelo para o Brasil e para o mundo. Como ministro da Educação, criamos a plataforma Carolina Bori, que todos os professores das universidades brasileiras conhecem muito bem, que é um grande salto com relação à questão do estímulo e incentivo à educação, e o apoio à ciência; a residência pedagógica, um programa também para a formação de professores. Apoiamos, integralmente, a criação de novas universidades e campi”.
A terceira e última pergunta, sobre o tema Meio Ambiente e Sustentabilidade, foi realizada pela professora titular do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da UFRPE, sócia-fundadora da Associação Pernambucana de Defesa da Natureza (Aspan) e da Sociedade Brasileira de Primatologia, Maria Adélia de Oliveira. Ela perguntou aos candidatos sobre ações para lidar com as mudanças climáticas.
Delegada Patrícia: “A gente vai ter compromisso com a respeitabilidade do meio ambiente, na verdade, hoje, infelizmente, a prefeitura do Recife não tem esse compromisso, não tem isso como prioridade. A gente tem esse olhar para a política ambiental, para utilização sustentável dos nossos recursos. Inclusive, lembrando que a sustentabilidade dialoga com o social e econômico. Hoje, infelizmente, a gente tem uma cidade em que parte aponta para o século 21 e parte aponta para a Idade Média. A gente tenta falar sobre sustentabilidade, mas nós estamos falando de uma cidade onde aproximadamente 180 mil pessoas não têm água em casa hoje. Passamos por locais onde as pessoas têm uma única torneira, na comunidade do Bueiro [em Afogados], por exemplo”.
João Campos: “Podemos discutir arborização na cidade, que já avançou muito, mas sempre vai ter o que avançar. Fazer isso vinculado à expansão da malha cicloviária e da qualificação das calçadas. E a gente tem que pensar sempre no saneamento. Fizemos o anúncio de poder aumentar em 50% a proteção do saneamento nas comunidades de interesse social. A gente fazendo isso, vai dar uma importante contribuição. Sabemos que nosso Rio Capibaribe nasce em Poção [Agreste], passa por diversas cidades e tem um programa junto com o Banco Mundial para fazer o saneamento dessas cidades. O Recife também vai fazer a sua parte, protegendo o Capibaribe, colocando a agenda do futuro, a agenda do clima, na rotina da prefeitura”.
Marília Arraes: “No nosso programa de governo, temos a previsão da criação de um comitê para fazer acompanhamento de toda a questão de mudanças climáticas e do meio ambiente, junto com as universidades, para que a gente tenha esse controle e a elaboração de políticas públicas efetivas na área. Mas nós também temos a previsão da criação do IPTU Verde, da implementação efetiva do IPTU Verde. Inclusive, a primeira iniciativa que houve na cidade foi durante meu primeiro mandato de vereadora, uma indicação legal que, infelizmente, não foi acatada pela prefeitura, na época, mas é importantíssima, para que a gente possa moldar o desenvolvimento da cidade com essa noção e meio ambiente e colocar a tributação também a serviço dela”.
Mendonça Filho: “Vamos criar a sétima RPA na cidade do Recife, a RPA Verde, para aquela região da Guabiraba, que é muito importante. Vamos criar o IPTU Verde. Todo prédio construído no Recife que tenha conformidade e garantia de uma melhor adequação relação à sustentabilidade ambiental terá um incentivo fiscal via IPTU. E a taxa de lixo, que a gente vai rever. A política de resíduos sólidos, aqui na cidade do Recife, a taxa de resíduo sólido, é uma piada. Eles cobram mais 33%, a política de Geraldo Julio, do PSB/João Campos, de quem faz coleta seletiva. Isso é um absurdo, você tem que estimular a coleta seletiva e não punir os empreendedores que fazem isso dentro da nossa cidade. E o IPTU, que nessa esteira toda, infelizmente, encareceu”.
Datas
Este ano, o calendário das eleições foi adiado por causa da pandemia provocada pelo novo coronavírus: o primeiro turno acontece em 15 de novembro; e o segundo, em 29 de novembro, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).