Guia para sobreviver aos preços altos; confira dicas para economizar
É possível fazer economias no gás de cozinha, na feira e na energia para reduzir custos ou fazer o produto durar mais tempo
O preço do botijão de gás é um dos vilões dos brasileiros. - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco
Nos últimos meses, a dona de casa Rose Dias vem sentindo seu poder de compra cair. Ela relatou que, agora, quando vai ao supermercado não consegue comprar muitos alimentos com o valor que estava acostumada a comprar. “Antes eu ia para o supermercado com R$ 20 e voltava com uma sacola cheia de frutas, verduras e legumes para passar duas semanas. Hoje eu vou com os mesmos R$ 20 reais e não passo nem uma semana com os alimentos que consigo comprar”, contou Rose.
Essa não é uma realidade apenas de Rose. É a dificuldade de milhões de brasileiros. Apesar do cenário, há pequenas soluções de economia doméstica que se pode fazer no dia a dia para reduzir tantos impactos, que você vai conhecer mais a frente e no infográfico.
A dona de casa Rose Dias sentiu seu poder de compra cair. Ela aplica algumas economias no seu dia a dia. Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco
O relatório Focus, publicado esta semana, apontou que a projeção de inflação para 2022 subiu para 6,59%. Na semana passada, era 6,45%. Os números mostram que o Brasil está ficando mais longe da meta estabelecida de 3,5% para este ano.
“A inflação alta pode ser explicada quando a gente vai ao mercado e compra bem menos sacolas, com os mesmos R$ 100, por exemplo. É quando o dinheiro perde o poder de compra”, explicou Paulo Pereira Filho, administrador e líder regional da XP Investimentos em Pernambuco. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo [IPCA] é o indicador oficial da inflação no País, que é composto pela variação dos preços de produtos e serviços voltados ao consumo das famílias.
Na análise de João Rogério Filho, economista e sócio-diretor da PPK Consultoria, os custos estão subindo no Brasil por dois fatores: o dólar e o petróleo. “O preço do combustível está em tudo, no trigo que é transportado de caminhão, na iluminação porque utilizamos energia termelétrica, nosso modal é muito dependente do óleo diesel. O câmbio tem a ver com as commodities agropecuárias, como frango e soja. Então o câmbio alto entra no seguinte dilema, se eu vendo para outro país, por exemplo, um frango a US$ 1, vou vender no Brasil o mesmo frango a R$ 5, porque se eu vender por menos no Brasil, vai ser melhor exportar”, analisou João Rogério. Os dois componentes apresentaram ainda mais alta depois da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Na vida dos brasileiros, o impacto é alto. De um salário mínimo (R$ 1.212), é preciso gastar quase 10% com botijão de gás e quase 50% com uma cesta básica. Na última pesquisa divulgada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na semana passada, a média do botijão de 13 kg em Pernambuco era de R$ 103,56.
“70% dos brasileiros adultos ganham até dois salários mínimos por mês. Se a pessoa ganha esse valor, tendo a participação de alimentação, transporte e gás, o orçamento fica muito mais restrito”, completou João Rogério.
Paulo Pereira Filho ainda acrescenta nesse cenário a recuperação da crise sanitária causada pela pandemia da Covid-19. “Houve uma situação de preços altos em 2020 quando começaram as medidas restritivas. Então precisou-se colocar alguns estímulos para recuperar 2020 e os impactos a gente sente agora”, analisou Paulo.
Para João Rogério, duas mudanças podem alterar o cenário atual. “Do lado dos combustíveis, retomarmos nossa soberania na marcação de preço, garantindo a rentabilidade dos acionistas a níveis razoáveis. Razoável, nesse caso, seria estabelecer uma rentabilidade aos acionistas de forma a manter a atratividade a esses investidores, mas sem sacrificar extremamente toda a população brasileira. Do lado do câmbio, ter-se uma condição política estável institucionalmente para poder garantir a confiança dos agentes econômicos na nossa moeda”, avaliou o economista.
Como economizar no dia a dia
Muito se ouve nas casas, nos supermercados e nas ruas sobre a dificuldade de enfrentar o aumento das despesas no Brasil. Reduzir custos é uma das principais palavras de ordem das famílias. A curto prazo, no dia a dia, é possível fazer algumas ações para poupar gastos, que podem se transformar em importantes economias no final do mês.
Laurileide Silva, professora do curso de Bacharelado de Ciências do Consumo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), explica que, diante do cenário, poupar gastos e gerar renda são ações que as famílias podem fazer. “É importante a família falar, conversar sobre a situação financeira. Às vezes, os pais e os avós não conversam com os filhos, não querem que eles sintam a situação. Mas, tem que falar, explicar, para todo mundo da família ter o objetivo de reduzir, de utilizar os recursos para reduzir”, explicou Laurileide.
Alguns recursos importantes podem ser feitos na economia doméstica, como a redução no uso do gás de cozinha, um dos vilões atuais. “Têm algumas técnicas para usar menos tempo de gás. Usar a panela de pressão sempre que possível é uma delas, para poder os alimentos cozinharem mais rapidamente. Uma panela em bom estado de uso, bem vedada, com a válvula funcionando corretamente. Outra dica é, por exemplo, antes de colocar uma carne mais ‘dura’ na pressão, temperar com frutas cítricas, como limão, abacaxi e laranja para ela amolecer e levar menos tempo no fogo”, disse a professora.
O botijão de gás é um dos produtos com alto preço. Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco
Alimentos como arroz e macarrão não precisam ficar no fogo até ficarem prontos. Laurileide sugere desligar antes o fogo, porque eles terminam de cozinhar com o próprio calor. “O macarrão pode ser desligado depois de dois minutinhos de pegar fervura, porque ele termina o cozimento na água quente. Lembrando que o sal na água deve ser colocado depois que colocar o macarrão porque a água sozinha ferve mais rápido do que a água com o sal. No caso do arroz, pegou cinco minutinhos de fervura, pode desligar e tampar a panela”, indicou a professora.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) também sugeriu algumas ações para que o botijão dure o máximo possível, como evitar abrir o forno para ficar olhando os alimentos; fechar portas e janelas com passagem de vento, para não diminuir a potência das chamas; e cortar os alimentos em pedaços menores para cozinhá-los mais rapidamente.
Outras economias diárias
Pesquisar preços e fazer compras coletivas podem ser outras opções importantes. "Junto com parentes ou vizinhos, por exemplo, você consegue comprar produtos em maiores quantidades, como um gás ou na feira, para poder barganhar preços. Sempre lembrando que é muito importante pesquisar os preços antes de ir. Existem supermercados que aplicam alguns descontos como a ‘quinta da verdura’, então você olha pra saber se vale a pena”, comentou Laurileide, ao acrescentar que não se deve ir ao supermercado com fome e sempre fazer a lista para comprar exatamente o que precisa.
A dona de casa Rose Dias faz várias aplicações no dia a dia. “Às vezes dentro de um mesmo supermercado eu encontro produtos similares com preços bem diferentes. Teve uma vez que fui em um corredor e encontrei um peixe por R$ 37, em outra área do supermercado, outro peixe muito semelhante estava por R$ 27. Então eu fico muito ligada, e nesse caso consegui economizar R$ 10”, contou Rose.
Juntar a maior quantidade de roupas possível, tanto para a máquina de lavar quanto para na hora do ferro de passar são outras estratégias indicadas pelo Idec. Assim, você economiza na água e também na energia.
Link: https://www.folhape.com.br/economia/guia-para-sobreviver-aos-precos-alto...