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[FOLHA DE PE] 'A geração do quarto': livro discute a saúde mental de crianças e adolescentes

'A geração do quarto': livro discute a saúde mental de crianças e adolescentes

O autor chama de "geração do quarto" grupo de meninos e meninas, dos 11 aos 18 anos, que apresenta clara fragilidade emocional e profundo sofrimento psíquico

Por Daniel Medeiros10/05/22 às 07H00 atualizado em 10/05/22 às 21H50

O professor e escritor Hugo Monteiro FerreiraO professor e escritor Hugo Monteiro Ferreira - Foto: Divulgação

O adoecimento mental de crianças e adolescentes é uma preocupação comum às famílias contemporâneas. Pais e mães sentem o desafio de saber conversar sobre o tema com jovens cada vez mais conectados à internet e menos dispostos ao diálogo dentro de casa. Para facilitar essa conversa, o professor Hugo Monteiro Ferreira escreveu o livro “A geração do quarto: Quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar”, lançado pela editora Record.

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“Eu faço muitas palestras e, nesses eventos, os pais começaram a me perguntar o que eles poderiam fazer para ajudar os filhos que passavam muito tempo nos seus quartos. Foi quando eu comecei a identificar que havia alguma coisa acontecendo com essas famílias e que não era percebido pelas escolas e nem por outros organismos sociais”, relembra o professor, que coordena o Núcleo do Cuidado Humano da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

O autor chama de “geração do quarto” um grupo de meninos e meninas, com idades entre de 11 e 18 anos, que apresenta clara fragilidade emocional e profundo sofrimento psíquico. Eles passam mais de seis horas isolados em um único cômodo, estabelecendo pouca ou nenhuma interlocução com as outras pessoas da mesma casa. As análises do livro tomam como base uma pesquisa realizada com 3.115 pessoas dessa faixa etária, conduzida por meio de questionários, entrevistas e grupos de discussão, em cinco capitais brasileiras: Recife, Maceió, Natal, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. 

Diante das informações coletadas, Hugo estabeleceu alguns apontamentos relacionados aos jovens participantes da pesquisa. “Havia um comportamento comum a boa parte deles, que era relacionado à autodestruição ou às psicopatologias, além de já terem sofrido com o bullying e o cyberbullying. Alguns se cortavam, tinham pensamentos suicidas ou apresentavam sintomatologias da depressão, por exemplo. Acho que o livro pode ajudar tanto essas crianças e adolescentes, que se sentem sozinhos, como pais e educadores, que não sabem muito como agir diante de situações dessa ordem”, defende.

Experiente também no campo da ficção literária, o paraibano radicado em Pernambuco buscou atribuir ao livro uma linguagem acessível a um público mais amplo. “Meu maior desafio foi transformar um material denso numa leitura fluida, poética e que, ao mesmo tempo, tivesse consistência. Adotei um tom ensaístico, usando falas (preservando identidades) dos entrevistados, para conseguir manter uma identificação com o leitor”, revela o escritor, que já foi finalista do Prêmio Jabuti, em 2014, com o infantil “Emílio ou Quando se nasce com um vulcão ao lado”. 

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Ao final do livro, o professor fornece algumas diretrizes para uma criação que fortaleça o emocional dos filhos e filhas. Para ele, o que falta aos pais é o diálogo com escuta. “A gente não aprendeu a ouvir. Os adultos têm tantas ideias pré-estabelecidas que, quando param para ouvir a criança ou o adolescente, já fazem isso julgando, condenando ou comparando. As famílias precisam acolher os filhos como eles são. Desse modo, você ajuda a estabelecer parâmetros de autoridade, mas sem autoritarismo”, aconselha. 

A publicação também traz reflexões sobre o papel do ambiente escolar na formação desse jovem. Segundo Hugo, há um modelo ultrapassado de escola que pode trazer mais prejuízos do que benefícios à saúde mental dos alunos. “É o que eu chamo de escola disciplinar, cujo papel é fundamentalmente passar conteúdo. Essa escola não ajuda, porque ela nega as identidades das crianças e dos adolescentes, a realidade e o contexto em que elas vivem. O contrário disso é uma escola de diálogo, plural, que eu chamo de transdisciplinar. Ela vai ajudar o estudante a construir relações, a estabelecer contato com informações e a usar isso na vida”, conceitua. 

 

“A geração do quarto: Quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar”, lançado pela editora Record

Serviço:

“A geração do quarto: Quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar”, de Hugo Monteiro Ferreira
Editora Record, 154 páginas
Preço: R$ 40 

Link: https://www.folhape.com.br/cultura/a-geracao-do-quarto-livro-discute-a-s...