Santa Cruz da Baixa Verde, no sertão do Pajeú, está entre as 10 cidades do Estado com maior perda de água tratada
Publicado 1 ano atrás em 24 de agosto de 2020. De Silva Lima
Em Pernambuco, o índice de perda de água tratada chega a 52%, sejam por problemas na tubulação, medidores que não detectam o volume utilizado ou ainda ligações clandestinas. Quem chama atenção é o Observatório do Saneamento Ambiental do Recife (OSAR) formado por pesquisadores do Recife vinculados à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Grupo Ser Educacional. Com o Marco Regulatório do Saneamento, aprovado em abril deste ano, as companhias terão que cumprir metas.
De acordo com os últimos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2017, a média nacional do Índice de Perdas na Distribuição foi de 38%. Além do estado superar a média nacional há ainda municípios que chegam a ter perdas acima de 70%. “É mais grave que desperdício. É perda de água. A empresa gastou para fazer a captação, gastou para tratar e gastou para distribuir e a maior parte da água se perde pelo caminho. E não há punição para má gestão do saneamento”, apontou o pesquisador.
Entre as dez cidades que lideram o ranking de perda de água tratada estão Santa Cruz da Baixa Verde (73%) e Riacho das Almas (70%), que estão localizadas no semiárido pernambucano, em áreas de secas endêmicas. As demais pertencem às zonas litorâneas distribuídas entre a Região Metropolitana do Recife (5 cidades) e Zona da Mata (3). Considerando a média do índice de perda de água apenas para esses municípios, o percentual chega a 67,6% de perdas no sistema de distribuição de água.
Doutor em sociologia (UFPE) e mestre em Desenvolvimento Urbano, Demétrius Ferreira é coordenador do OSAR e aponta o índice de perda como um dos mais graves na crise hídrica. “É como se em um restaurante, ao longo de sua existência, pouco mais da metade de todos os alimentos comprados, manipulados e servidos fossem jogados fora antes de o cliente consumir e pagar. Certamente, nenhum restaurante iria se sustentar por muitos anos com uma taxa de desperdício tão elevada”, comparou.
Em relação ao índice de perda de água por município pernambucano no ano de 2017, as maiores taxas se concentram nos municípios litorâneos, onde existe maior disponibilidade hídrica e maior concentração populacional. No estado, a média do índice de perda de água no período de 2000-2017 foi de 60,63%, indicando que no período de 2001-2017 a empresa pernambucana de saneamento desperdiçou mais da metade de toda água captada, tratada e distribuída. “De modo geral, altas de taxas de perda de água são observáveis na maioria dos municípios pernambucanos, evidenciando um problema crônico sobre a gestão do serviço público de abastecimento de água”, destacou Demétrius.
Ainda segundo o pesquisador, os dados indicam que a gestão do sistema de abastecimento de água em Pernambuco merece uma atenção especial. “Considerando o contexto de aquecimento global, crescimento populacional e poluição dos rios, é factível assumir que a escassez de água tende a se acentuar nos próximos anos. Nesse sentido, reduzir as taxas de perdas de água se apresenta como uma estratégia promissora para diminuir a pressão sobre os recursos hídricos disponíveis, bem como garantir o acesso universal a água para a população”, alertou o pesquisador.
Ranking
As 10 cidades do estado com maior perda de água:
- Santa Cruz da Baixa Verde – 73%
- Riacho das Almas – 70%
- Sirinhaém – 69%
- São Lourenço da Mata – 68%
- Rio Formoso – 67%
- Paulista – 67%
- Itamaracá – 67%
- Barreiros – 67%
- Camaragibe – 65%
- Igarassu – 63%