O interesse pela pesquisa e a defesa das florestas deram origem à amizade entre Andreza Carneiro e Raquel Cola durante a graduação em Engenharia Florestal, no Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Entre atividades de pesquisa, extensão e também de gestão no centro acadêmico, as duas se formaram e seguiram a carreira acadêmica cursando mestrado em instituições diferentes.
Este ano, a trajetória das duas em busca de realizar ciência no Brasil a favor da preservação ambiental se encontrou novamente: ambas foram aprovadas na seleção de doutorado em Recursos Florestais, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP). No resultado final do processo seletivo, Raquel ficou na primeira colocação e Andreza, na segunda, evidenciando a qualidade da graduação e a pertinência das atividades de iniciação científica realizadas na Ufal.
As aulas do doutorado começam agora em julho e as duas estão na expectativa de novos aprendizados e também de estudarem juntas novamente. Atualmente, Andreza está na fase final do mestrado, também na Esalq, em que foi aprovada em primeiro lugar. Ela está nos preparativos para defesa da dissertação. “Espero a abertura de novas portas de conhecimento, em que eu possa crescer profissionalmente e contribuir para nossa ciência”, afirmou.
A estudante aproveita para ressaltar a qualidade do ensino público e a necessidade de valorização e de investimentos. “Como já fiz meu mestrado na USP, sei que aqui é incrível, mas desejo que só venha a melhorar. Que possamos ter um governo que incentive nossa pesquisa e que valorize os pesquisadores que temos, pois não é um caminho fácil. É um caminho árduo, fruto de muito estudo e dedicação, mas, infelizmente, sem investimentos e sem valorização do que fazemos com tanto amor”, comentou.
Raquel também está ansiosa para essa nova fase, “tanto pela nova universidade, quanto por poder trabalhar com pessoas de referência na área”. Assim como a amiga, ela reflete sobre os cortes orçamentários que as instituições de pesquisa vêm sofrendo e afirma que quer “desenvolver um trabalho útil e que ajude o cenário ambiental e a pesquisa acadêmica do país de alguma forma, que vêm sendo tão descredibilizados nos últimos anos”.
Engajadas em estudos com foco na preservação ambiental desde a graduação, as estudantes vão continuar nessa área de conhecimento e contam que a escolha pela Esalq foi pelo fato de ser referência na área de restauração e preservação florestal. “O curso de pós-graduação é conceito 6 pela Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] e eu considero ter alguns dos melhores pesquisadores na área”, avaliou Raquel, que terá como objeto de estudo no doutorado a restauração de florestas.
Já Andreza vai continuar o trabalho que iniciou no mestrado, em que produziu uma polpa celulósica a partir de bambu. “Agora, irei focar mais na biorrefinaria de bambu. Produzindo novos bioprodutos a partir dessa cultura, despontando como uma das luzes para iluminar o caminho de uma economia mais verde, evitando o uso de produtos de origens fósseis e com foco na mitigação de mudanças climáticas”, anunciou.
E para chegar onde estão, a trajetória delas foi marcada por muito estudo, dedicação e pela oportunidade de participar em diversas atividades proporcionadas no ambiente universitário da Ufal. “Eu e Raquel tivemos vários momentos de pesquisas juntas, viagens para apresentação de trabalho, fizemos parte da mesma gestão do Centro Acadêmico de Engenharia Florestal e lutamos juntas para um mundo melhor e proteção de nossas florestas. É uma alegria muito grande tê-la agora comigo em São Paulo para ocuparmos nosso lugar de ex-Ufal e alagoanas aqui na USP”, contou Andreza, com entusiasmo.
Vamos conhecer um pouco mais sobre a história de cada uma delas? É mesmo de se inspirar!
Dos EUA para Alagoas
As mudanças marcam o início da história de Raquel. Filha de mãe gaúcha e pai chileno, ela nasceu nos Estados Unidos da América (EUA), mas veio para Maceió com apenas um ano de idade e, depois, foi morar em Paripueira, município localizado na região da grande Maceió.
O ingresso dela na Ufal foi em 2015. O primeiro desejo: cursar Engenharia Ambiental, mas, após o resultado do Sisu, ficou na lista de espera. Foi quando ela decidiu cursar a segunda opção, Engenharia Florestal. “Comecei a me apaixonar pelo curso desde o primeiro período”, lembrou.
Raquel conta que teve uma graduação muito ativa, integrando iniciativas de pesquisa, extensão e ensino. Atuou como voluntária em projeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) desde o primeiro período e, depois, participou como bolsista e colaboradora em três projetos do Pibic e suas respectivas renovações. “Também participei de um projeto de extensão numa escola infantil em Rio Largo e fui monitora de três disciplinas”, relatou.
Durante a graduação, também se dedicou a buscar melhorias para o curso e os estudantes, atuando como presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Florestal no período de 2018 a 2019.
A possibilidade de viver tanta experiência dentro da Ufal abriu o leque de oportunidades para Raquel escolher o que queria fazer. E ela optou em seguir a carreira acadêmica. “Sempre gostei de pesquisa, então pensei em me manter nessa área. Entrei no mestrado em Ciências Florestais pela UFRPE [Universidade Federal Rural de Pernambuco], em março de 2020, e finalizei em março de 2022”, contou.
A estudante ressalta o apoio dos professores da Universidade durante a graduação. “Meu orientador do curso, professor Carlos Frederico Brandão, sempre me motivou nas pesquisas, no TCC e em me inscrever para o mestrado. Os demais professores do corpo docente do curso de Engenharia Florestal da Ufal também foram muito importantes na minha motivação de uma forma geral”, destacou.
Ufal como segunda casa
Sair de casa às 5h da manhã e só retornar às 19h ou, em alguns dias, às 23h. Era essa a rotina de Andreza Carneiro durante a graduação. Na época, ela residia em São Miguel dos Campos e, diariamente, precisava se deslocar até o Ceca Ufal, em Rio Largo, onde passava o dia todo.
Assim como a colega de curso, ela também ingressou em 2015. A diferença é que a Engenheira Florestal já era, conscientemente, a primeira opção de Andreza. “Depois de muitas pesquisas de mercado e das disciplinas da grade curricular do curso, onde sempre tive familiaridade com cálculos, química e biologia, vi que essa seria a graduação que tinha tudo a ver comigo. Hoje, eu sou apaixonada pela minha profissão e não me vejo em outro lugar”, contou.
A iniciação científica (IC), a extensão e o ensino também foram atividades que marcaram a graduação dela. “Foram três anos de IC, um ano em um grupo focado em educação ambiental para escolas da rede pública do estado de Alagoas e para ONGs [Organizações Não Governamentais] e dois anos de monitorias, além de um ano do Centro Acadêmico de Engenharia Florestal, no cargo de coordenadora de finanças”, enumerou.
A escolha pelo mestrado foi uma consequência de suas atividades durante o curso. “Ainda na graduação, eu percebi que meus trabalhos já eram focados na área acadêmica. Então, antes mesmo de terminar, já tentei a seleção de mestrado na Esalq da USP, pois sempre foi meu sonho desbravar o mundo e fazer a pós-graduação na melhor universidade da América Latina”, afirmou.
Além de ter estudado muito para conseguir ser aprovada, Andreza destaca a dedicação de cinco anos durante a graduação e o apoio dos docentes para conseguir, com êxito, o primeiro lugar no mestrado e o segundo, no doutorado. “Os professores do Ceca sempre me motivaram a continuar a estudar, principalmente, a engenheira florestal e professora Vânia de Sá, que me deu todo o suporte para aprovação no mestrado e hoje partindo para o doutorado”, agradeceu.
Importância dos programas de assistência estudantil
Para ter condições de participar das atividades durante a graduação, Andreza afirma o quanto o acesso aos programas de assistência estudantil da Ufal foi essencial. “Fui beneficiada por vários programas. A Bolsa Permanência, durante os cinco anos de graduação, deu a possibilidade de me dedicar apenas aos meus estudos, pois passava o dia todo na Universidade, onde pude me engajar no curso, nos grupos de pesquisa e extensão, nos congressos e publicação de artigos”, revelou.
Ela conta que também recebeu auxílio para participar de eventos fora da Ufal para apresentação de trabalhos, levando o nome da Universidade a outros locais. Lembra também que, antes mesmo da graduação, já tinha sido beneficiada com as ações realizadas pela instituição alagoana. Aluna de escola pública, ela participou do Programa Conexões de Saberes, em 2014, o Pré-Enem da Ufal. “Foi o que me deu todo o suporte para ser aprovada em Engenharia Florestal”, salientou.
Além das ações de assistência que visavam ao ingresso e à sua permanência no curso, Andreza relata que foi auxiliada por outros programas que enriqueceram sua formação. “Fui aluna do Programa Casas de Cultura do Campus (CCC), na modalidade língua inglesa, que me ajudou, hoje, a ter uma base para o inglês que é de extrema importância na pós-graduação”, afirmou. E continua: “Também fui beneficiária do Programa Esportes da Ufal e sigo até hoje praticando esportes, agora na modalidade atletismo”.
Com uma graduação ativa e com apoio para abraçar as oportunidades, ela, que hoje está morando em Piracicaba-SP, por causa do mestrado, leva toda uma formação acadêmica marcada por diversas experiências positivas e garante que sempre vai carregar “todo o amor”.
Disponível em: Egressas da Ufal são aprovadas em 1º e 2º lugares em doutorado da USP