A vida acadêmica de Vivian Costa Vasconcelos sempre foi cheia de desafios. Aos 32 anos ela hoje é engenheira de pesca, formada pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em Penedo – AL, e em agosto inicia a nova jornada como estudante de doutorado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), após ser aprovada na seleção em primeiro lugar.
No doutorado, ela realizará o biomonitoramento do Baixo Capibaribe. “Minha pesquisa envolve a análise físico-química e microbiológica da água, realizar análises de biomarcadores nos peixes Tilápia, no intuito de descobrir o impacto dos contaminantes nos rios”, explica. O projeto de doutorado terá duas etapas e já tem data para coleta e até convite para criar uma startup com todas as informações pesquisadas. “O contaminante que eu encontrar em maior concentração vou desenvolver um bioensaio em laboratório para saber o impacto daquele contaminante no fígado, na brânquia e no sangue dos peixes. Isso é uma questão de saúde pública, principalmente para a população ribeirinha, que tem esse pescado como meio de subsistência”, avisa.
Muitas vitórias vieram após muitas lutas. Aos 15 anos ela foi diagnosticada com Ceratocone, uma doença que afeta a estrutura da córnea, camada fina e transparente que recobre toda a frente do globo ocular. Nessa época ela foi aprovada no vestibular, tendo apenas 2% de visão. Isso não a limitou. Durante a graduação ela gravava as aulas para conseguir estudar em casa. “Alguns professores conseguiam fazer prova oral comigo”, explica.
Após contato com um médico que estudava a doença, Vivian passou por 12 cirurgias, entre elas um transplante e implante de lente, e conseguiu melhorar significativamente a qualidade de vida, até que hoje pode comemorar a grande vitória de ter 90% da visão. “Tenho isso com muita gratidão, sou muito grata por poder estudar e trabalhar. Quando iniciei a graduação foi o período em que fiquei pior da visão. Então me adaptei. Hoje sou muito boa com o microscópio, me dedicar é uma forma de gratidão”, avalia.
Durante a graduação ela começou a trabalhar com reaproveitamento de resíduo de pescado. Ao final do curso Vivian deu um curso de capacitação pelo Pronatec em Jequiá da Praia sobre o tema e daí continuou se especializando na área, até que em 2017 ela entrou no mestrado em Zootecnia na Ufal e iniciou os trabalhos na perspectiva ambiental. Sua pesquisa envolveu o desenvolvimento de um sistema de recirculação fechado com tilápias, na tentativa de ofertar uma ração feita a base de resíduos de maracujá. A ideia era observar o nível do estresse do peixe, se era influenciado ou não pelo consumo da ração com maracujá.
Após o mestrado, ela começou a trabalhar com biomonitoriamento dos rios alagoanos, fazendo análises ambientais dos rios do litoral norte e sul do Estado. “Também participei das quatro edições das expedições científicas que a Ufal fez ao Rio São Francisco, na equipe de organização e no grupo que analisava a água e os biomarcadores de estresse oxidativo e histopatologia”, diz.
Esse trabalho foi além do mestrado. Em todos os desastres ecológicos que aconteceram em Alagoas nesse período, a pesquisadora atuou no monitoramento e análise da água e dos peixes. “Nos rios do litoral norte, sul, na lagoa mundaú, coletamos água e peixes para estudar. Além do desastre do óleo, que resultou num artigo”, afirma.
Em 2022 Vivian participou do processo seletivo para o doutorado em aquicultura na UFPE, com a linha de pesquisa Bioquímica de organismos aquáticos. A seleção, feita em três etapas, consistia numa prova de inglês, na defesa do projeto e por fim a avaliação do currículo. Ela passou em primeiro lugar e no 8 de agosto, inicia as aulas em Pernambuco.
Durante toda a trajetória acadêmica Vivian foi bolsista. Atuou na Iniciação Científica, Pibic, Pibiti, CNPq, foi monitora, deu aula no pré-vestibular Comunitário em Penedo, e no mestrado foi bolsista pela Fapeal. Agora na UFPE ela também será bolsista, da Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe). “A Universidade foi um alicerce na minha vida. Passei fases muito difíceis, mas estudar e trabalhar, ser remunerada por isso, me incentivou a cada vez mais querer e agarrar as oportunidades”, avalia.
“Eu vivi a graduação, o mestrado e agora pretendo viver o doutorado de forma sempre intensa, sempre produzindo e sempre trabalhando, de forma a dar uma guinada na minha vida profissional e no conhecimento. A Ufal é uma fábrica de conhecimento, estando nesta instituição você tem todas as chances de crescer e ser um bom profissional, basta querer e correr atrás”, afirma.
A pesquisadora comemora: “Hoje eu consegui alcançar todos os meus objetivos por que tive a oportunidade de viver a universidade, de crescer dentro da universidade, de produzir e de levar todo esse estudo para a população através de projetos de extensão, em dar um retorno à população sobre os impactos ambientais, qualidade de pescado, de água, essa troca de informação é muito importante. A Ufal foi pra mim uma porta aberta de oportunidades e de conhecimento onde eu pude buscar e crescer a cada dia”, conclui.
Disponível em: Pesquisadora formada pela Ufal é primeiro lugar em doutorado na UFRPE