A morte de um homem de 51 anos após ser mordido por um tubarão quando saia do mar, em Jaboatão dos Guararapes, deixou algumas pessoas com medo de entrar na água no Grande Recife. O presidente do Comitê de Monitoramento de Incidente com Tubarões (Cemit), coronel do Corpo de Bombeiros Valdy Oliveira, afirmou que são necessários alguns cuidados (veja vídeo acima).
Respeitar a sinalização é o primeiro ponto, segundo Oliveira, principalmente os locais com placas sobre alerta de incidentes. "Existe uma máxima que é água no umbigo sinal de perigo. Se chega a água na altura da cintura, você está correndo o risco de cair em uma depressão, um buraco, e tem risco de afogamento", apontou.
"O afogamento pode causar um acidente com tubarão porque as pessoas vão se debater e [isso] pode chamar a atenção do animal", declarou o presidente do Cemit.
O litoral pernambucano conta com placas alertando para o risco de ataque e também com orientações para a população. Entre os critérios para um trecho receber a sinalização estão ser um trecho de mar aberto, canal submarino e local com incidência de animal marinho.
"As estatísticas nos mostram que a área maior potencializada de ataques vai de Olinda até o Paiva [no Cabo de Santo Agostinho], onde temos 110 placas sobre incidentes com tubarão", afirmou.
Grande Recife recebeu em 2016 novas placas de alerta sobre ataques de tubarão — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press
Tradicionalmente, no litoral pernambucano, há um aumento de chuvas e vento entre entre maio e agosto, o que deixa a água mais turva, outro ponto que contribui para o maior número de incidentes ter sido registrado nesse período, segundo dados do Cemit.
O mês de julho é o período com maior incidência de ataques, com dez casos. Em segundo lugar fica maio, com oito registros, seguindo por junho, com sete incidentes. A subida da maré também costuma deixar a água mais turva.
Usar objetos brilhantes ao entrar no mar, como relógios e joias, podem levar o animal a confundir a pessoa com um peixe, por exemplo, apontou Oliveira.
"Como nós temos uma água turva, o animal acha que é um peixe e faz uma mordida exploratória, porque o ser humano não faz parte da cadeia alimentar do animal", disse o coronel.
Outro cuidado é não entrar no mar com ferimentos abertos, já que o sangue também pode chamar a atenção dos tubarões. "O sangue também atiça o animal por fazê-lo pensar que é um bicho da cadeia dele que esta sangrando e ele se aproveita desses animais para se alimentar", explicou.
O engenheiro de pesca Léo Veras, pesquisador de tubarões há 31 anos em Fernando de Noronha, explicou que, quando a água está mais limpa, o bicho consegue identificar o ser humano e perceber que não é alimento.
"Quando a água é turva, isso confunde o animal, principalmente se a água do mar estiver misturada com água de rio. O ambiente no continente favorece a uma falha na percepção sensorial do tubarão", apontou Veras.
Tubarão que atacou Marcelo Rocha no sábado (10) era tubarão-tigre, segundo análise de pesquisador — Foto: Reprodução/TV Globo/Arquivo
Estatísticas dos ataques
De acordo com o Cemit, desde junho de 1992, foram notificados 66 casos de ataques de tubarão na Região Metropolitana. Ao todo, 26 pessoas morreram depois de serem atacadas pelos animais. Outras 40 pessoas conseguiram sobreviver.
Entre os óbitos, foram registrados 24 banhistas, como o homem atacado no sábado (10). Já os outros casos eram surfistas. Entre os feridos, os surfistas somaram 28 casos, o restante foi de banhistas.
A capital pernambucana registrou 27 ocorrências e Jaboatão dos Guararapes, 24. No Cabo de Santo Agostinho, houve seis casos e Olinda registrou quatro. Paulista e Goiana tiveram um, cada.
A área da Igrejinha de Piedade, onde aconteceu o caso mais recente, é o ponto com maior incidência de ataques, de acordo com o Cemit. Foram 13 registros no local. O segundo lugar é a área do edifício Acaiaca, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, com sete casos registrados.
Casos recentes
Homem é atacado por tubarão em Piedade, em Jaboatão, e morre