Pesquisadores da UFRPE revelam características de tubarão que mordeu banhista na Praia de Piedade
Estudos realizados pelo Laboratório de Dinâmica de Populações Marinhas (DIMAR), da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), esclareceram detalhes sobre o animal
Katarina Moraes Publicado em 12/07/2021 às 13:40
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Estudos realizados pelo Laboratório de Dinâmica de Populações Marinhas (DIMAR), da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), esclareceram detalhes sobre o tubarão que mordeu o banhista Marcelo Costa Santos, 51 anos, no último sábado (10), levando-o a óbito. Segundo os pesquisadores, o animal era da espécie tubarão "tigre", tinha comprimento acima de 2,6 metros, sendo, portanto, um adulto e de porte grande.
Segundo o doutor em engenheiro de pesca Jonas Rodrigues, as lesões provocadas na vítima - que teve a mão decepada e ferimento profundo na coxa direita - foram fruto de apenas uma mordida do animal, que é habitual no litoral pernambucano. "É uma espécie comum e que é bastante agressiva, envolvida em casos de incidentes no mundo inteiro", explica o especialista.
A identificação, de acordo com ele, foi feita a partir de resultados de pesquisas que a universidade já possui e de imagens dos ferimentos enviadas por equipe do Instituto de Medicina Legal (IML).
"Temos uma espécie de catálogo das formas de mordida de cada espécie de tubarão, e também tem análises de lesões causadas em partes rígidas e moles. A partir dessas informações, comparamos as novas lesões com a forma das mordidas de cada espécie e conseguimos fazer a identificação", detalha Jonas.
O estudo ainda afirma que "as recomendações estabelecidas pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (CEMIT) no Estado de Pernambuco são plausíveis e apresentam eficácia considerada".
O tenente-coronel Anderson Barros, do Corpo de Bombeiros, destaca alguns cuidados a serem tomados. "Tomem banho de mar nas piscinas naturais, protegidas por arrecifes, evitem mar aberto e esportes que os coloquem em risco ainda maior. Nossa orientação é também no sentido de não ter um comportamento de risco, não nadar para mais profundo, não usar adornos metálicos que confundam os animais, não usar protetores ou perfumes, porque os animais percebem a alteração química na água. Mulheres em período menstrual devem evitar o banho para não chamar a atenção dos animais", disse.
Ainda, existem aproximadamente 110 placas destinadas à prevenção de incidentes com tubarão, que contêm informações sobre condutas a serem seguidas, em Pernambuco. Elas estão distribuídas ao longo de 33 km do litoral, nas áreas consideradas de maior risco de incidente com tubarão.
O caso
O incidente com Marcelo aconteceu nas proximidades do posto 4 do Corpo de Bombeiros em frente à Igrejinha de Piedade, na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife. O tubarão chegou a amputar a mão direita da vítima e a causar um ferimento profundo em sua na coxa direita. Ao chegar no hospital, a vítima teria sofrido uma parada cardiorrespiratória e falecido.
O capitão do Corpo de Bombeiros Joel Fernandes, que participou do socorro, conta que a vítima estava em uma partida de futebol na faixa de areia junto a colegas do trabalho e entrou na água do mar para se limpar. Segundo ele, Marcelo não estava no fundo quando foi atacado.
“Eles estavam em uma confraternização, jogando futebol, e, depois, ele, sozinho, entrou no mar e ficou com a água abaixo da linha da cintura. Não estava fundo. Quando foi mordido, ele mesmo gritou informando que estava sofrendo um ataque de tubarão. Foi quando os salva-vidas do posto 10 desceram, o retiraram da água e fizeram um primeiro atendimento", relatou.
Ataques em Pernambuco
O Estado não registrava novos ataques de tubarão desde 2019. Mesmo assim, na última semana, o JC publicou uma reportagem alertando sobre o "perigo constante" dos tubarões em Pernambuco. A Igrejinha de Piedade é o ponto considerado mais crítico de Pernambuco: de um total de 66 ataques oficialmente computados pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) do Estado, 12 aconteceram no local. Ainda há dois incidentes em Fernando de Noronha em análise pela instituição.
Segundo a especialista em tubarões, oceanóloga e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco Rosângela Lessa, existe uma "situação favorável" que explica a recorrência de ataques na região. "Ali há uma abertura nos arrecifes que faz com que as águas do raso e das áreas mais fundas se relacionem. Então, se o tubarão tiver por ali, vai ter acesso às áreas mais rasas". Além disso, há também o fato de haver uma aprofundação da costa no local.
Próximo ao local do incidente, há placas e bandeiras que indicam o perigo. Para Rosângela, a saída para evitar acidentes é a conscientização. "Esse não é um problema que é resolvido. Não tem como prever e nem como garantir que os incidentes não ocorram mais nas áreas onde já ocorreram. É um problema de educação, mais do que qualquer coisa, porque as recomendações não são seguidas. Acredito que não importa o quanto se faça de pesquisa, se os humanos não se derem conta e sigam as instruções", alertou.
Segundo o Cemit, existem aproximadamente 110 placas destinadas à prevenção de incidentes com tubarão no Estado, que contêm informações sobre condutas a serem seguidas. Estão distribuídas ao longo de 33 km do litoral pernambucano, nas áreas consideradas de maior risco de incidente com tubarão.
Na Igrejinha, a última vítima foi José Ernesto Ferreira da Silva, de apenas 18 anos, em junho de 2018. Ele teve parte da perna e da genitália arrancados em uma mordida de tubarão. Menos de 12h depois, o jovem faleceu no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife. No dia 15 de abril, no mesmo local, o potiguar Pablo Diego Inácio de Melo, de 30 anos, também foi atacado. Este, por sua vez, teve mais sorte e sobreviveu. Ainda assim, Pablo Diego perdeu parte do braço direito e teve a perna direita amputada.
Antes do início da contabilização dos incidentes, houve outros casos de ataque no local. Em 1947, por exemplo, o padre Serafim de Oliveira morreu, aos 25 anos, após ser mordido por um tubarão também em frente à Igrejinha. Depois do acontecimento, o local ficou conhecido como "Convento Maldito".
Histórico
De 1992 até 2019, foram registrados 62 ataques na área do 'continente', sendo 27 no Recife, 23 em Jaboatão dos Guararapes, seis no Cabo de Santo Agostinho, quatro em Olinda, um em Paulista e outro em Goiana. Em Fernando de Noronha, quatro pessoas foram vítimas dos tubarões.
Desse total, 25 vítimas não resistiram aos ferimentos, e 41 sobreviveram - muitas sofreram amputações. Os pontos onde mais foram registrados incidentes no continente foram na Igreja de Piedade (19,35%), na Praia de Piedade, e no Acaiaca (11,29%), na Praia de Boa Viagem. Em Fernando de Noronha, cada um dos quatro ataques aconteceu em localidades diferentes.
LINK: https://jc.ne10.uol.com.br/pernambuco/2021/07/12620311-pesquisadores-da-...