Boneco gigante de Paulo Freire é apresentado no Recife
O educador pernambucano Paulo Freire ganhou uma versão em boneco gigante de Olinda (veja vídeo acima). A homenagem foi feita em comemoração ao centenário de nascimento do patrono da educação brasileira, que ocorre no dia 19 de setembro. Nesta segunda-feira (30), a alegoria foi apresentada na abertura do semestre letivo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
O boneco, construído pela Casa dos Bonecos Gigantes e Mirins de Olinda, pesa 13 quilos e tem 2,1 metros no chão e 3,8 metros de pé. Um primeiro esboço foi feito em barro e argila e, posteriormente, a alegoria foi moldada em fibra de vidro. Cabelo, barba e óculos foram reproduzidos.
A cerimônia de apresentação do boneco ocorreu no Salão Nobre da UFRPE, no bairro de Dois Irmãos, na Zona Norte do Recife. Devido à pandemia da Covid-19, os estudantes participaram da cerimônia por meio da internet. Estiveram presentes professores e outros representantes da universidade.
Educador, pedagogo e filósofo, Paulo Freire é patrono da educação brasileira desde 2012. Freire desenvolveu uma estratégia de alfabetização de adultos baseada nas experiências de vida das pessoas. A primeira turma teve 380 alunos de Angicos, localizada na região central do Rio Grande do Norte, dos quais 300 se formaram.
Seu livro "Pedagogia do Oprimido" é o único livro brasileiro a aparecer na lista dos 100 títulos mais pedidos pelas universidades de língua inglesa consideradas pelo projeto Open Syllabus.
A metodologia de Paulo Freire vem sendo criticada por integrantes do governo Jair Bolsonaro, que atribuem ao método o baixo desempenho escolar do país em avaliações da qualidade da educação. Um projeto de 2019, tentou transferir o título de patrono da educação a José de Anchieta, padre jesuíta canonizado pelo papa Francisco em 2014.
Cerimônia
UFRPE apresentou, nesta segunda-feira (30), o boneco gigante do educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira que completaria 100 anos em setembro — Foto: Pedro Alves/G1
A professora e doutora em educação Ana Maria Araújo Freire, viúva de Paulo, participou da cerimônia de forma virtual. Morando em São Paulo, ela enviou um vídeo falando sobre a felicidade de celebrar o centenário do marido com um boneco de Olinda.
“Me tomo de uma alegria maior quando fico sabendo que esse boneco gigante é gigante mesmo, muito maior que os outros, e que será carregado por um menino que vive na região e estuda na UFRPE. Fico muito honrada. Com a participação de toda comunidade. Isso era uma coisa muito importante para Paulo. Acho uma ideia genial", afirmou.
Um dos idealizadores do boneco foi o produtor cultural André Vasconcelos. Segundo ele, o trabalho de construção da alegoria durou cerca de três meses, mas a pesquisa dos aspectos físicos do patrono da Educação começou um ano antes. Ao menos cinco pessoas trabalharam na produção.
Cerimônia apresentou o boneco gigante de Paulo Freire na UFRPE, na Zona Norte do Recife, nesta segunda-feira (30) — Foto: Pedro Alves/G1
“Foi um dos bonecos mais especiais que fizemos, porque Paulo Freire é um pernambucano, é patrono da educação e uma das pessoas que mais batalharam pela nossa educação. Demorou bastante porque tinha muitos detalhes a serem trabalhados. A barba, os retoques do rosto, tudo demandou muito tempo”, declarou o bonequeiro.
Na UFRPE, quem coordena as atividades em celebração ao centenário de Paulo Freire é o professor Moisés Santana, pró-reitor de Extensão, Cultura e Cidadania. Para ele, que foi aluno do educador pernambucano em seu último ano de vida, o pensamento do patrono da Educação segue presente em diferentes campos de atuação.
“O legado dele está presente no mundo inteiro, existem cátedras no mundo inteiro para estudar Paulo Freire. O estudo dele é muito vinculado aos processos culturais do Brasil e de Pernambuco. Fazer com que ele virasse um boneco gigante é uma forma de manter vivo e recriado o pensamento dele. É uma forma de enraizá-lo ainda mais”, disse o professor.
Paulo Freire ganhou uma versão em boneco gigante — Foto: Pedro Alves/G1 e Arquivo/Instituto Paulo Freire
Quem carregou o boneco de Paulo Freire foi o estudante Otoniel Marinho, de 22 anos, graduando do curso de Ciências Biológicas na UFRPE. Morador de Nova Descoberta, periferia da Zona Norte do Recife, ele estudou em escola pública no ensino médio e participou do curso preparatório para o vestibular da própria universidade.
Por sua trajetória com educação pública, segundo Marinho, carregar Paulo Freire nos ombros foi uma experiência indescritível. “Ele moldou a educação brasileira. Mostrou para o mundo que tudo é possível com a educação. Caminhar com Paulo Freire, simbólica e fisicamente, é uma honra”, disse o jovem.
Boneco gigante de Paulo Freire diante do edifício-sede da UFRPE, na Zona Oeste do Recife, nesta segunda-feira (30) — Foto: Pedro Alves/G1
Reitor da UFRPE, o professor Marcelo Carneiro Leão afirmou que, quando se trata de educação, é impossível não pensar no legado de Paulo Freire. Ele lembrou a importância do investimento na ciência para superar as crises pelas quais passa a sociedade.
“Nenhum país do mundo, nenhuma sociedade, avançada, nem reduzirá a desigualdade social sem investimento em educação, ciência e tecnologia. Isso não é opinião, o que é muito importante num estado democrático de direito, mas quando falo que esses são os únicos caminhos, falo baseado na história da humanidade", declarou o reitor.
"Trazer o pensamento de Freire nesta discussão é ainda mais importante, porque precisamos repensar a forma que estamos atuando como seres humanos na sociedade”, disse Carneiro Leão.
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